Emoção Marca Retorno da Cia. de Pina Bausch

22 09 2009

Por Maria Carolina Bastos

O Pina Bausch Tanztheater Wuppertal realizou ontem (21/09) sua primeira exibição no País desde que a lendária coreógrafa alemã Pina Bausch faleceu, em junho. No programa desta temporada em São Paulo estão Café Muller (1978) e A Sagração da Primavera (1975), dois marcos da dança contemporânea.

Como não poderia ser diferente, o ensaio geral no último domingo foi marcado pela comoção. Ao entrarem na sala de espetáculo, os convidados encontraram já dispostas no palco as mesas e cadeiras pretas, a porta giratória e os biombos transparentes que compõem o cenário de Café Muller. Sem cortinas fechadas, sem suspense, como um ensaio deve ser.

Os seis bailarinos em cena deixavam a nítida sensação de estarem “órfãos” e a fragilidade expressada em seus rostos contrastava com o vigor dos movimentos. Entre eles estava Helena Pikon, substituta brilhante de Pina Bausch, e Dominique Mercy, um dos bailarinos mais antigos do grupo.

A troca de cenário entre as duas coreografias foi um show à parte. Os técnicos esticaram a lona coberta de terra no chão, marchando juntos e marcando o ritmo com a batida dos pés.

Na segunda parte do espetáculo, a companhia trouxe A Sagração da Primavera. Com música de Igor Stravinsky, o balé é baseado em uma lenda russa, que conta a história de uma jovem virgem escolhida pelos camponeses de sua aldeia para ser oferecida em sacrifício aos Deuses. Entretanto, ao criar sua coreografia Pina Bausch optou por universalizar a história, limpando a obra das referências do país.

A Sagração da Primavera

Os 42 bailarinos começam vestidos iguais: as mulheres com uma camisola clara e os homens de calça preta e dorso nu. Porém, conforme avançam na coreografia, a terra sobre a qual dançam se mistura ao suor, formando desenhos distintos nos corpos e nos rostos de cada um. A brasileira Ruth Amarante executou com paixão o solo final da virgem . Antes mesmo que ela finalizasse o último movimento por completo, alguém do público gritou “bravo!” e a platéia inteira começou a aplaudir de pé, por alguns minutos.

Desde a morte de Pina Bausch, o momento vivido pela companhia é delicado e repleto de incertezas. As decisões são tomadas democraticamente em assembléias, sob o comando de Dominique. A organização do arquivo se tornou um aspecto fundamental para preservar o legado deixado pela coreógrafa e alguns integrantes do grupo já assumiram essa missão.

Ao comentar o ensaio de domingo, a crítica de dança Helena Katz não escondeu suas dúvidas sobre o futuro. “Uma companhia não é feita só de passado”, disse emocionada. Ela ressaltou que o grupo criado por Pina Bausch pode estar próximo do fim, já que a mente por trás do Tanztheater Wuppertal se foi. “No momento, não consigo enxergar uma solução que permita a continuidade da companhia”, observou a crítica. Helena também lembrou a importância dos bailarinos que “educaram a sensibilidade de algumas gerações de público” com suas performances.

Apesar do clima de tristeza que marca as primeiras apresentações no País sem a lendária coreógrafa, o grupo está muito bem ensaiado. Talvez justamente por causa do momento delicado, os bailarinos parecem estar dando o máximo de si. No rosto expressam a falta de Pina Bausch, enquanto seus corpos a homenageiam com movimentos precisos, vigorosos, perfeitos. A temporada brasileira do Tanztheater Wuppertal vai até sábado (26/09) e promete deixar uma marca na história da dança no Brasil.

Serviço

Pina Bausch Tanztheater Wuppertal

Teatro Alfa: Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722

Tel. (011) 5693-4000 (todos os ingressos estão esgotados)